domingo, 4 de julho de 2010

BeScary.com -p2

No dia seguinte, a terra amanheceu encharcada.
Lá se foram as minhas esperanças de ver as marcas dos pezinhos.
Fora tudo um sonho, tentava me convencer disso.
Um sonho tão real.
Resolvi permanecer.
Naquela noite, deixei a fogueira acesa.
Estava cansada, quase não dormira na noite anterior.
Me recolhi cedo novamente.
Acordei novamente.
O mesmo sonho.
A mesma sensação de estar sendo vigiada.
Os mesmos passos.
A fogueira se extinguiu.
O frio aumentara, conseguia ver a nuvenzinha de fumaça que saía quando respirava.
Novamente o fogo se acendeu mais alto e forte do que antes.
As mesmas sombras.
A mesma cantoria.
As mesmas vozes.
As mesmas batidas na barraca.
O mesmo bater de pés.
A mesma poeira.
Eu me cobri.
Mas, pera, não podia ser tão covarde.
Saí novamente.
Novamente, silêncio.
A fogueira estava apagada.
Das crianças, nem sinal.
Uma gota.
Começara a chover novamente.

No dia seguinte, amedrontada, resolvi voltar para casa.
Lar doce lar.
Droga, havia esquecido minha lanterna.
Sem crianças.
Ou quase.
-Querida? Mariana? Chegamos!
-MAAARII !
Era Daniela, minha irmã mais nova.
Ela abraçou minhas pernas.
-Olha Mari, eu perdi um dente ! A fada vai vir me visitar !
-AAAAAAAAAAAAAH – eu gritei e me libertei. Fugi e me tranquei em meu quarto.
Deitada na minha cama, soluçava sem lágrimas. O que estava acontecendo comigo?!

Naquela noite, ouvi passos no corredor.
Devia ser meu pai vindo me mandar desligar o computador.
De repente acabou a energia elétrica.
Resolvi acender uma vela e ligar para a Eletropaulo.
Ocupado.
A vela apagou e se acendeu novamente, com uma chama mais forte.
“NÃO PODE SER!” pensei “DE NOVO NÃO!”.
Batidas na porta e na janela.
Vozes de crianças.
Olhei para a janela.
Através do vidro e da cortina, vi a sombra de uma criança.
Enfurecida, quebrei os vidros, chutei a porta até sair da dobradiça.
-MARIANA! O QUE É QUE ESTÁ ACONTECENDO?!
-CADÊ?! CADÊ ELA?!
-QUEM?!
Uma porta se abriu.
Ouvi choro de criança.
-DANIELA!
Saí correndo pelo corredor.
Tudo que me lembro desse momento foi dela chorando, desesperada.
Sangue.
Havia sangue em minhas mãos.
-NÃO!
Chorei, gritei, corri.
Abria a porta das casas, enfurecida.
Choro de criança.
Sangue.
Cada vez mais sangue.
Um homem bombado, de uniforme branco me segurou.
Outro me colocou em uma camisa de força.
Me levaram em uma vãn, me deram uma injeção.
Apaguei.
Quando acordei, estava em um quarto branco, acolchoado.
Dentro de uma semana, saiu minha sentença.
15 anos de prisão.
Os próximos 3 em um sanatório.
Os últimos 12, prisão de segurança máxima.
Saí no jornal.
“Garota de 15 anos enlouquece e mata 6 crianças na vizinhança. Uma delas, era sua própria irmã.”
Nunca mais ouvi as crianças.
CONTINUA...

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