Queres seu homem Sol?
Eu quero o meu nuvem.
Sem cor, sem voz
Só sombra, só nuvem.
Que me deixe ser livre, mulher
Mesmo que nem sempre sua.
Que tenha medo, marés
No ciclo das águas e dos ventos
E, quem sabe
De vez em quando seja mulher
Que me vista e saiba me vestir
Como se suas mãos fossem minha própria vaidade.
Há muito, me casei
Como rio que corre, forte e caudaloso
Ele se foi, assim como minha vida
Eu já era outra, habilitada a ser ninguém
Ainda assim, de meu carrasco
Bate saudades, desse alguém.
Me lembro sim, daquela época
Encanto que veio, de repente.
Eu era nova, dezanovinha
Tudo era de príncipe, um princípio.
Neste mesmo pátio
Me dirigiu palavra
No primeiro dia
Aí percebi,
Que falado, nunca havia.
Neste mesmo pátio
O que havia feito
Era comercia palavra
Em negoceio de sentimento
Desperdício, diria.
Falar é outra coisa
É essa ponte sagrada
Que quando ele falava
Me solvia na fala, insubstanciada.
Neste mesmo pátio
Lembro desse encontro
O ar por A parava
A brisa sem voar
Quase nidificada
Quando ele tomava a palavra.
Vez voz, olhos e olhares.
Ele, em minha frente
Todo chegado sem usual barragem
Como se sua única viagem
Tivesse sido minha vida,
Querida.
E ele, sempre distante
O último entre seus dedos,
Do cigarro não fumava
E em minha taquicardia
O tabaco se auto-consumia.
E ele gostava assim
A inteira cinza, intacta ao chão
Por ele tombei como igual
Desabei inteira sobre seu corpo
Depois, me desfiz, em poeira estrelada
O vento que me espalhava, nada mais que sua mão.
Nesse mesmo pátio
Em que estreava meu coração
Tudo acabaria, afinal
A paixão dele desbrilharia
A murchidão, do que antes, florescia.
Diz-se que a tarde cai
E que a noite, também cai
Ao contrário, é a manhã que se vai.
Por um cansaço de luz
Suicídio de sombra,
Espreguiçando, mandriosa, inventadora de sombras.
Aos goles de lembrança, na varanda
Sinto que minha alma é água,
Se me debruçar tanto,
Me entorno e morro, vazia. [i]
Assim ele virá, para renovar despedidas
Acreditei, sim, no amor
Em que dois, é se multiplicar em um
Mas hoje sinto,
Ser um ainda é muito.
Ambiciono, sim, ser múltiplo de nada.
Ninguém no plural.
Ninguéns.
Nada mais que o nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário